Por Carla Braga Cerqueira. Gamag Europa-Portugal
São agora conhecidos os dados do GMMP – Global Media Monitoring Project de 2020. Dados referentes a um ano extremamente exigente a diversos níveis, sobretudo por causa da pandemia de COVID-19 e que deixou as mulheres numa situação de maior vulnerabilidade social.
Também nos media a nível europeu os dados da monitorização mostram que persistem assimetrias de género quer nos meios tradicionais quer nas plataformas digitais e que as mudanças são muito reduzidas. As mulheres aparecem pouco como fontes ou sujeitos das notícias (28% e em 2015 eram 25%) e muito associadas a temas de género, os quais têm pouca visibilidade mediática.
Além disso, aparecem muito pouco em áreas de relevância pública, como a política/governo (22%) e como especialistas, mas continuam a ter presença como testemunhas. Menos de 1% das histórias desafiam estereótipos de género ou mencionam desigualdades de género. As mulheres aparecem a falar principalmente no domínio do privado/doméstico e os homens na esfera pública/profissional. É ainda de destacar que 41% das notícias monitorizadas são assinadas por mulheres, mas as jornalistas continuam a viver uma segregação horizontal em termos de acesso às notícias consideradas mais prestigiadas.
A investigação de 1995 revelou que apenas 17% dos sujeitos das notícias – as pessoas que são entrevistadas ou de quem se trata a notícia – eram mulheres. Passados 25 anos os dados revelam que as mudanças são extremamente reduzidas e que este é um campo marcado pela estagnação e regressão.
O GMMP é a investigação mais longa e mais extensa do mundo sobre o género nos meios noticiosos. Surgiu num contexto marcado pela Declaração e Plataforma de Ação que resultou da Conferência de Pequim, e que alertava para a invisibilidade e estereotipização das mulheres nos meios de comunicação. Atualmente continua a mostrar a necessidade de reafirmar os objetivos de Pequim nos media, ainda mais numa altura marcada pela precarização da profissão.
Este cenário exige uma tomada de posição pública das empresas mediáticas, sindicatos e organizações profissionais, organizações e coletivos da sociedade civil, da academia e dos governos. Este é um setor crucial para a democracia e por isso a GAMAG – Global Alliance on Media and Gender Europa, enquanto rede que integra profissionais da esfera mediática, organizações da sociedade civil e académicas/os não pode ficar indiferente.
Apela a todos os países integrados nesta monitorização e aos atores sociais que são chamados a ter uma voz ativa nesta mudança que o façam, que divulguem os dados e que implementem medidas e iniciativas que possam contribuir para uma comunicação social mais participada, diversa, inclusiva e justa.
Por fim, a GAMAG Europa considera que é necessário elogiar e visibilizar o trabalho feito pela WACC – The World Association for Christian Communication, a organização não governamental que assegura o GMMP e que congrega equipas de pessoas voluntárias a nível mundial para fazer um trabalho de monitorização rigoroso. É necessário todo o apoio para que esta investigação possa prosseguir, pois os dados são fundamentais para a intervenção no campo mediático.
Portugal, 14 de Julho de 2021